terça-feira, 7 de julho de 2009

A Burqa e a tolerância, por João César das Neves

Mais irónico é este debate realizar-se à volta de uma questão de vestuário, precisamente o tema onde a liberdade de costumes se começou a expressar na contemporânea. Há cem anos não passava pela cabeça de ninguém que um homem sério saísse à rua sem chapéu e bengala ou que as damas mostrassem o tornozelo. Fardas e uniformes eram omnipresentes em todas as classes. Os filhos dessa geração afirmaram a sua autonomia precisamente pela sua aparência exterior. Cabelos compridos, roupa desalinhada, calças de ganga, minissaias pareceram como combates importantes no caminho da liberdade. Agora os franceses, ao proibirem a burka, pensam estar no mesmo combate. Mas as batalhas antigas eram contra as proibições, não pela imposição de novas proibições.

O problema é mais vasto do que parece. Como Sarkozy com a burka, o Parlamento Europeu e o Governo português estão empenhados há anos em limitar a vida a fumadores, automobilistas, pais e cidadãos com as melhores intenções. Esquecem que todas as ditaduras, mesmo ferozes, sempre se justificaram com o bem dos cidadãos. Salazar, Franco, Mugabe, Chávez e até Hitler, Estaline, Mao e Pol Pot sempre disseram estar empenhados numa sociedade melhor. O mal deles não era cinismo e hipocrisia, nem estava tanto nas finalidades, mas na arrogância e tacanhez que o seu caminho implicava. As tais sociedades ideais nunca apareceram. Só ficou o sacrifício da liberdade.



Curiosamente (ou não) estou em total consonância com JCN no que à "questão" da burqa diz respeito. É precisamente no respeito pela "liberdade" que reside o problema e é pela sua defesa (em todas as ciscunstâncias) que nos devemos bater. Mesmo quando tal defesa nos leva a defender algo que para nós, pessoalmente, seria um absurdo - como é o uso da burqa. Pena é que, noutras questões, JCN não se mostre tão tolerante e defensor da liberdade. Mas este já é um começo.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Ainda sobre o "caso Pinho"

Alberto João Jardim, com a sua proverbial capacidade de análise, resumiu assim o episódio dos "corninhos" no Parlamento:

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Assim vai o Estado da Nação



O PM em histeria. O Ministro Pinho a fazer "corninhos"... tristes imagens do desGoverno a que chegámos.



Nota: Excelente o discurso de Paulo Rangel, mas muito na "linha CDS" (economia, agricultura, educação).

quarta-feira, 1 de julho de 2009

A burqa e os complexos ocidentais




Em França reacendeu-se a polémica da burqa com o Presidente Sarkozy a dizer que o seu uso não é "bem vindo em França". Sustenta o presidente francês, e os apoiantes da ideia de restringir o uso da burqa, que esta põe em causa os princípios da igualdade e da liberdade e é sinónimo da inferiorização da mulher, pondo em causa a sua dignidade.

Compreendo, em parte, as razões de Sarkozy e reconheço que o fenómeno da "expansão" do uso da burqa, a que assistimos um pouco por toda a Europa, é algo quase chocante para um ocidental. Mas a verdade é que, desde que seja uma escolha livre de quem a usa, a burqa é ela própria uma manifestação da liberdade religiosa e de pensamento.

Por esse motivo, entendo que a mulher islâmica, vivendo ou não em França, deve ter a liberdade de conformar o seu comportamento a todos os preceitos religiosos que não constituam um impedimento para a vida em sociedade nem se consubstanciem na prática de um crime. Ora, o uso da burqa não atenta contra qualquer valor social digno de protecção jurídica, nem é um crime. Deste modo, não há motivo para um Estado, ainda que laico, discutir sobre a sua admissibilidade. Porque, se acharmos que França pode, hoje, proibir o uso da burqa teremos que, amanhã, concordar com qualquer Estado que entenda proibir o uso de qualquer símbolo religioso incorporado no vestuário (ou simplesmente proibir uma qualquer particular forma de vestir), o que não me parece razoável.

Mais importante, parece-me, seria os Estados não perderem o seu tempo com o uso da burqa e preocuparem-se com outros direitos das mulheres islâmicas, esses sim muitas vezes postos em causa por preceitos religiosos, como seja o seu direito à educação, ao acesso à cultura ou à auto-determinação sexual.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Guia de Arquitectura Porto e Norte...2.0

A primeira edição deste guia/roteiro arquitectónico chega ao fim. Em breve será publicado outro de outras zonas do Pais. Pretende ser conciso e revelar alguns exemplares do que melhor se faz e fez na arquitectura Portuguesa a partir do inicio de século.

Por fim não podia deixar de publicar algumas referências dos fins do século XX e inicio do século XXI. Sóla-Morales numa intervenção muito atlântica constrói um grande passeio pedonal que se estende da foz(molhe) a Matosinhos, marcando o fim do percurso com um edifício apelidado de transparente,edifício este que foi requalificado por Carlos Prata. Toda a intervenção privilegia os materiais duráveis e resistentes como os aços e os betões assim como revestimentos em pastilha e azulejo. A vegetação é mantida e introduzidas novas plantações nalguns locais privilegiando plantas de clima marítimo. Alguns erros são cometidos como o grande parque de estacionamento à espera de carros e o antigo edifício transparente que não funcionou como era inicialmente previsto(grande bancada sobre o mar). O mobiliário urbano muito criticado(cadeiras individuais que se agrupam em pequenos grupos) não deixa de ter a sua piada e introduz uma nova maneira de contemplar o oceano.
Koolhas constrói um equipamento estruturante para toda a cidade do Porto. Um ícone do século XXI, edifício que vai marcar a cidade. Isto é conseguido pela audácia da sua forma estranha e do seu desenho de pormenor. Como uma grande pedra no charco na vangloriada escola do Porto. Koolhas cria um novo ambiente urbano em volta do objecto(espaço de deambulação e prática de desportos como o skate) assim como transporta a cidade a um nível cosmopolita nos eventos que ai são praticados. Todo o interior se assemelha a uma grande nave espacial à espera de todo o género de musicas. Chapas metálicas, betão aparente, escadas rolantes, luzes fluorescentes que mudam de cor transportam-nos para estes ambientes futuristas.
Souto de Moura constroi uma torre na avenida da Boavista. Uma torre em que as peles que revestem todo o edifício fazem dele um gigante objecto rectangular minimalista que se pode assemelhar a uma escultura de Judd. A torre Burgo cria uma praça de enquadramento onde sobressai uma escultura de Ângelo muito ao gosto das praças Nova Iorquinas.


63 - Torre Burgo -Porto / Burgo Tower / E. Souto de Moura 1991-2006

62 - Casa da Musica- Porto / music hall / OMA – Rem koolhas 1999


61 - Passeio atlântico- Matosinhos / atlantic sideways and gardens / Sóla Morales 1999-2002

Também publicado em http://fdeprumo.blogspot.com

domingo, 14 de junho de 2009

A man for all seasons




Não é novidade para ninguém que sou "Portista" por convicção e com paixão. Às vezes até posso ter algumas dúvidas relativamente às opções ou caminhos, posso pôr em causa algumas escolhas ou questionar o método, mas a verdade é que impossível não reconhecer a Paulo Portas a inteligência, a argúcia, a capacidade (ou instinto) política e a entrega à "causa" que é fazer crescer (e renovar) o CDS. Paulo Portas reinventa-se, permanecendo fiel à matriz essencial, e por isso é o líder que acompanha os tempos e que será capaz de voltar a surpreender, nas legislativas, quem vaticina a morte do CDS.

Feita a declaração de interesses, sendo fã assumida e já “vacinada” com as performances do líder (porque já estamos habituados à excelência) não é possível deixar de fazer referência à entrevista desta semana na Única. Não é o lado humano do político, não é, tão pouco, por ser num registo “quase intimista” mas não invasivo a que estamos pouco habituados na política à portuguesa. O que realmente nos interpela é a forma genuína e convicta com que Portas vai respondendo às perguntas, mais pessoais ou mais políticas, sem se pretender esconder e sem usar rodeios. Apenas se esquiva a responder quando lhe perguntam se é um homem bonito! De tudo o resto, fala com a naturalidade das pessoas normais, que sabem do que gostam, o que querem e vivem bem com as suas escolhas. Não há nesta entrevista qualquer traço de arrogância intelectual, de intolerância ou qualquer apelo ao sentimentalismo bacoco das entrevistas género “a vida privada de…”. E depois há a questão da honestidade, que faz tanta falta na política. Portas não vai atrás do politicamente correcto e, por isso mesmo, não deixa de dar conta da sua ambição – voltar ao governo e, até, liderá-lo - e de mostrar o motivo pelo qual a tem: não só é capaz, como já deu provas. Mais linear que isto seria impossível. Sem retóricas ou palavras caras, que animam uma certa esquerda caviar. Com Paulo Portas tudo adquire uma simplicidade absoluta (própria da verdade), como deve ser, em política.

Mas mais do que elogiar a entrevista, convém é que a leiam. Vale a pena!




Também publicado aqui.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Continuamos a ser bem geridos...

Tendo em conta o que vem aqui escrito, o estado desperdiçou quase tanto, quanto investiu na ajuda à crise... Se a isto juntarmos os 2, 5 mil milhões de euros que gastou no BPN, o despedicio quase que triplica! Mas para isso está cá o Zé, que paga estas "brincadeiras"! Só não quero imaginar, quanto deste desperdicio não são desvios para as contas dos meninos...

Apesar de ser o Tribunal de Contas a vir revelar este resultado, não apresenta quaisquer consequências para os responsáveis desta ingerência, responsáveis esses que até são conhecidos.
MAS QUE RAIO DE TRIBUNAL É ESTE? Ai se fosse o Zé...

segunda-feira, 8 de junho de 2009

sexta-feira, 29 de maio de 2009

1969 vs 2009...

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Pertinente....




quarta-feira, 13 de maio de 2009

Ateísmo militante

Ana Margarida Craveiro no delito de opinião:
Ontem dei por mim a pensar que certa espécie de ateísmo, muito na moda em alguns blogues, é como que uma inversão do born again christianism. O zelo é o mesmo: um espírito missionário, imbuídos que eles estão da verdade, e da missão que têm para o mundo. Uns chatos, a bem dizer, que não nos largam a campainha: "já sabe que não há deus? Já sabe que isso são mitos e histórias para criancinhas? Tenho aqui uma série de livros que lhe mostrar o caminho."



E nós bocejamos, enquanto tentamos fechar a porta. Que gente mais chata.

terça-feira, 12 de maio de 2009

A mulher de César




Não é preciso dizer muito mais. Está aqui tudo.

Tou a considerar votar no BE...

Quando parece que a malta toda alinha pelo politicamente correcto, de ser contra as touradas, não é que a "luz" vem do sitio mais improvável?
DANIEL VAI EM FRENTE TENS AQUI A TUA GENTE!!!

Medina Carreira



Acabei de vir do clube dos pensadores, aonde assisti á conferencia de Medina Carreira. Este é um pouco como Cassandra: numa sociedade embebedada pelo dinheiro fácil do sobre-endividamento, ele parece ser o único que nos avisa do abismo para onde corremos.

Num país anglo-saxónico, germânico, a sua linguagem "no nonsense", e baseada em factos puros e duros, já teria feito cair governos, regime e faria a sociedade dar uma volta de 180º. Em Portugal, a sua mensagem será sempre ignorada, porque: em primeiro lugar a forma é preferida ao conteúdo. Em segundo porque, a cultura portuguesa, como qualquer cultura católica é assente em dogmas. E não se pode por em causa, como é obvio, o dogma do estado social, sorvedor-mor do dinheirinho da nação e não só.

Entretanto a malta vai cantando e rindo, e só acordará da bebedeira quando tiver o cavalo de Tróia dentro das muralhas da cidade. Aí será tarde de mais (pelo menos para este regime)!! Até lá os nossos grandes lideres limitam-se a fazer o que fizeram até agora: despejar dinheiro nos problemas, dinheiro obtido claro, á custa de endividamento.

sábado, 9 de maio de 2009

Bancos assaltam clientes.

PMF nos Blasfémias:

Depois de ter visto, nos telejornais da noite, os últimos desenvolvimentos do caso BPP (e BPN, e.., e….) , retive uma frase, passada na reportagem do telejornal da SIC: “Os clientes têm o direito de não serem assaltados pelos bancos”

Nota: a sensação de que certos agentes/operadores da banca e da finança não diferiam muito de vendedores de ar e vento, com uma revista de negócios na mão e um jargão pseudo-técnico em inglês e sempre na ponta da língua, não tem nada a ver com os personagens do caso BPP. … Melhor, não tem a ver apenas com eles.

A sensação já vinha de trás, sobretudo quando ocasionalmente éramos confrontados com certas circunstâncias e pormenores da respectiva actuação, sempre embalada num pseuso-cientificismo desses agentes (os MBA’s eram apenas as “cerejas em cima dos bolos” e os bolos eram os cartões de visita dos jovens empregados – consultores, analistas, assessores ou gerentes - todos eles aspirantes a banqueiros ou financeiros).

Era uma plêiade de bancos e de banquinhos, de serviços de ”private”, de “ sociedades financeiras” que ofereciam sempre juros remuneratórios altíssimos e garantidos, justificando-os vagamente com “mercados emergentes”, sul-americanos, asiáticos ou ainda mais longínquos.